NA PRAIA
De repente, todos correram pela areia até chegar na água, e alguém disse que ele ia se afogar. E parecia verdade. Dois salva-vidas já estavam muito próximos dele; em seguida o pegaram. Tudo foi muito rápido, e os dois homens não conseguiram salvá-lo. Deitado na beira do mar, o homem. Um terceiro salva-vidas mandava as pessoas se afastarem, mas era inútil, todos queriam ver o morto.
Naquele dia, o almoço foi servido um pouco mais tarde; à noite, na casa vizinha, teve uma festa embalada a dance, e muito álcool e drogas. Muitas pessoas jovens e sorridentes. Fiquei na varanda observando toda a movimentação até o meio da madrugada, quando decidi voltar à praia e ver o local onde o homem estivera morto.
O céu estava limpo e muito estrelado, e não havia lua. Em um ponto e outro podia-se ver algumas pessoas. Todos queriam, apenas, se divertir.
Fiquei parado ali por quase uma hora, sentindo a água bater nos meus pés, nos meus tornozelos… Eu conseguia escutar, ao longe, o som da festa. Eu poderia estar com eles… mesmo não tendo sido convidado, nem me perceberiam. Mas preferi ficar ali e depois voltar para casa, pensando naquele homem. Pensando no que ele poderia estar fazendo se não estivesse morto; pensando no que estariam fazendo seus familiares naquele momento em que ele estava morto.
Como uma palavra ruim, deitei-me na areia úmida e repeti: morto.
Pela manhã, caminhei como de costume. Algumas pessoas tomavam chimarrão, outras, apenas admiravam o mar.
Fiquei na beira da praia até os salva-vidas chegarem.
Os salva-vidas, matinalmente, reuniam-se em um pelotão e corriam pela orla. Naquela manhã, não.
Naquela manhã, antes de voltar para casa, bebi uma cerveja, e pude ver as nuvens formando-se no horizonte, prenunciando a chuva. Mas ninguém estava interessado, e eu sabia, sabia que sempre podia esperar alguém que gostava dessa combinação: mar e chuva.
Almocei. Dormi um pouco. Peguei uma cadeira de praia, o jornal e fui para o meu lugar a uns quinze metros do mar, uma linha atrás da guarita dos salva-vidas, e li todo o jornal, tomei dois banhos de mar e dois banhos de ducha no calçadão.
Às 18 horas os salva-vidas tinham ido embora.
Cochilei um pouco... ao acordar, vi meus vizinhos chegando na praia. Traziam uma caixa térmica, certamente cheia de cerveja. Todos riam, e brincavam.
Coloquei o jornal sobre as pernas. O mar estava mais agitado, soprava um vento suave que fazia a areia circular. Nada daquilo me incomodava.
Eles, acomodados na beira do mar, se divertiam.
Aos poucos as pessoas foram deixando a orla. As nuvens, mais densas, começavam a fechar o céu. Lembrei-me daquela canção: "La vi quemar el agua; la vi mojar el fuego".*
Recolhi a cadeira e o jornal. Tranquilamente retornei para casa.
No dia seguinte, ficamos sabendo que um deles, alcoolizado, tinha resolvido tomar banho, e o mar, agitado, o engoliu.
Voltei à beira mar. Deitei-me na areia úmida: morto.
* Cuánto trabajo - Mercedes Sosa